Ineditismo em Mato Grosso – A escritora Luciene Carvalho é a primeira escritora negra a assumir a presidência de uma Academia de Letras no Brasil e a transferência de título será feita entre mulheres. A eleição ocorreu nesta manhã de sábado (16), na Academia Mato-Grossense de Letras (AML-MT) e a posse será no dia 30 de setembro.
Luciene conta que há 50 dias foi convidada a assumir o desafio. “De início tive resistência, mas vi uma grande possibilidade, pois não se trata de uma escolha individual. É uma posição que representa uma coletividade. Não só dos colegas da AML, mas de muitas outras trajetórias”. Luciene realça que é uma mulher negra, periférica e que graças ao ensino público teve a chance de estudar.
Há 50 dias um grupo de imortais mato-grossenses sugeriu que a poetisa, que é também a primeira mulher negra a assumir uma cadeira na instituição, se candidatasse e eles a apoiariam. Assim, foi formada a chapa-única Tradição e Inclusão, eleita em primeira votação. “Essa conquista é da AML também. É uma escolha que traduz a sintonia da casa com um novo momento social. Isso é ousado”, celebrou.
A seu lado estarão os escritores Flávio Ferreira – como vice-presidente -, Cristina Campos, que assume a função da Secretaria e Agnaldo Silva, como tesoureiro. Para o Conselho Editorial, que cuida das publicações, foram eleitos Marli Walker, Elizabeth Madureira e Olga Castrillon Mendes. Já para o Conselho Fiscal, Lorenzo Falcão, Marta Cocco e Eduardo Mahon.
Em total alinhamento, eles esperam ampliar o diálogo com outras linguagens artísticas, como o teatro, cinema e música. De outro lado, desejam manter ações educativas e vínculo com escolas, consolidar e fortalecer a rede de escritores mato-grossenses. “A casa tem uma natureza estadual que não podemos tirar do foco. Buscaremos caminhos para estar mais presentes em nível estadual”.
Ela destaca a gestão estruturante de Suely Batista.
“Foi um grande feito. Em múltiplos sentidos, o que nos confere suporte para voos mais altos”.
Sobre o resultado da eleição deste sábado (16), Luciene destacou que sua ligação com a literatura é de sobrevivência. “É talvez o que eu tenha de mais fabuloso. Vivo de poesia há 22 anos. E várias pessoas assistiram a essa jornada, dedico a elas esse título. Reafirmo também, o meu compromisso visceral com a literatura”. Luciene tem 14 livros de poesia publicados e em breve lançará o 15º, intitulado ‘Saranzal’. Todos eles dedicados ao universo feminino.
“Poesia é trabalho, mas é inspiração. É uma propriedade de parte do que eu sou. É uma honra nesse momento junto com a arte, trazer o povo preto. Agradeço os deuses da literatura porque eu fico sempre pensando em uma frase de Caetano que diz que ‘nossa língua é nossa pátria’. Nós, negros, tivemos acesso posterior. Ao mesmo tempo que temos Machado de Assis, são raros os nomes de mulheres negras que publicam e ainda mais, quando se trata de Mato Grosso. Então, que eu seja chuva, que eu seja adubo”.
Ocupante da Cadeira 31, Luciene espera inspirar crianças e jovens de escolas públicas em jornadas similares. “Para que possam enxergar que na literatura cabe o diferente. Que a gente possa se apropriar de nossas narrativas, emoções e figuras de linguagem. Agora, pretendo canalizar tudo isso, a serviço da AML. Só impera a esperança e o espírito de serviço”.
Fonte: Mídia Ninja