Conheça Letícia Paris e os desafios que enfrentou para seguir no jornalismo

Enquanto muitas crianças sonham em ser jornalistas desde cedo, Letícia Paris, de 33 anos, decidiu seguir a carreira na área da comunicação no último ano do ensino médio. Quando criança e adolescente, suas paixões eram o futebol e a música. Hoje, ela considera a sua “casa” a televisão e não se vê exercendo outra atividade.

Em entrevista ao Primeira Página, a repórter da TV Centro América, que veio para Mato Grosso há 9 meses, falou sobre a sua trajetória, a paixão pelo jornalismo e os desafios que enfrentou na profissão por ser lésbica desfem.

Trajetória de Letícia Paris

Natural de Mariluz, na região noroeste do Paraná com 10.327 habitantes, conforme estimativas do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) de 2021, ela lembra que a mãe tinha um quarto na casa onde costurava roupas e, enquanto ajudava ela nas entregas e no atendimento aos clientes que batiam a porta, sonhava ser instrumentista, ou jogadora.

“A paixão pelo jornalismo e pela comunicação em TV foi um processo que durou anos, na faculdade e até mesmo depois de formada, a cada experiência. Hoje em dia, posso afirmar que por mais que eu continue gostando de esporte e de música, minha “casa” é no jornalismo e na televisão. Não me vejo fazendo outra coisa e nem quero”.

Letícia se formou em 2011 em jornalismo pela PUCPR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná) e, desde então, vem se dedicando à profissão. Ela já atuou no rádio, portal e na TV.

“Na faculdade era bolsista. Foi um período difícil, morava longe dos meus pais, que se mudaram para Mato Grosso do Sul. Então, o dinheiro era curto e dividia o apartamento e os perrengues com minha irmã e meu cunhado. No último ano de faculdade consegui estágio em uma emissora de TV religiosa e ali tive a certeza de que queria ser repórter”.

Nessa emissora, Letícia trabalhou por quatro anos. Depois, foi para uma cidade no interior do estado e cobriu a editoria policial.

“A rua ensina! Cobri muitas histórias de crimes, presenciei troca de tiros, acidentes trágicos. Quando deixei esse emprego, estava mais “cascuda” para encarar qualquer desafio na função”.

Do interior, ela voltou para Curitiba e trabalhou na afiliada Globo do Paraná. Lá ela entrou como produtora, mas tinha o mesmo sonho: uma vaga de repórter.

“Passei pelo g1 Paraná onde acompanhei muitos episódios marcantes. Por lá, estreamos o g1 em 1 Minuto estadual, no estúdio, nos telejornais. Mas, deixei a empresa em busca de uma oportunidade e de novas experiências em um estado onde eu pudesse ser repórter de TV”.

Letícia veio para Mato Grosso em março deste ano, para trabalhar como repórter da TV Centro América em Sorriso. A decisão deixou amigos e familiares apreensivos, mas ela avalia que foi a melhor decisão que tomou.

“Eles tinham um certo receio de como seria, estando mais longe de casa, em uma região, até então, desconhecida. Sinceramente, foi a melhor coisa que poderia ter feito. O Nortão do estado me ensinou muito, me deu experiências que eu precisava para evoluir como repórter. Foi por lá que, com a parceria dos meus colegas, pude ver meu trabalho pela primeira vez em rede nacional na TV aberta: matérias no Jornal Hoje, no Globo Rural”.

Meses depois, a jornalista recebeu o convite para se mudar para Cuiabá. A mudança trouxe novos desafios, aprendizados e oportunidades.

“Foi rápida a identificação com nossos telejornais e a confiança do telespectador no meu trabalho. Vieram as chances de estrear em outros programas nacionais: JN, Bom Dia Brasil, Encontro. Tudo, claro, com a parceria dos meus colegas de redação e de rua, afinal, a gente não faz nada sozinho. Minha família, mesmo longe geograficamente, assistiu a cada material e vibrou. Valeu a pena ter vindo”, avalia.

 

O “sim” de MT e os “nãos” da vida  

Letícia conta que foi muito acolhida pelo povo mato-grossense e perdeu as contas de quantos “seja muito bem-vinda ao nosso estado” ouviu nas ruas por esses meses.  Mas, lembra que ao longo da carreira recebeu muitos nãos.

“Colecionei “nãos” que me eram dados sem motivos explícitos, em situações que deixavam claro que era somente por eu ser exatamente como sou, por me vestir como me visto, pelo meu jeito de andar, de falar. A verdade é que ninguém escolhe ser como é, e nesse mundo há pessoas de todos os jeitos. Então, como alguém pode dizer que só existe lugar para um perfil?”, questionou.

Ao fazer o seu melhor e, mesmo assim, ouvir que não havia espaço para atuar como repórter, por ser como era, Letícia lembra que foi difícil.

“Quando comecei no vídeo, vi muitas mensagens de pessoas nas redes sociais com ofensas LGBTfóbicas, pessoas dizendo que ali não era o meu lugar. Situações que, certamente, muitas outras pessoas como eu também acabam sofrendo”.

A jornalista guardou cada uma dessas mensagens e conta que seu o objetivo era: “entrar na casa dessas pessoas e fazer o trabalho de forma, tão eficiente, a ponto de elas entenderem que não importa o tamanho do meu cabelo ou a roupa que visto, ou se eu performo feminilidade ou não. O importante é o que eu tenho a te contar, se isso vai mudar sua vida de alguma forma, em que ponto aquela notícia é importante para você. Afinal, é esse o trabalho de um repórter”.

Representatividade importa!

Com o passar dos anos, a situação mudou e Letícia lembra que ouviu muitas pessoas, que antes não admitiam ela falando na televisão, dizendo que gostavam do seu trabalho.

“Quando a TV Centro América me trouxe para MT, foi um desses momentos de oportunidade. Infelizmente, ainda não é em todos os veículos que as pessoas LGBTQIA+ conseguem ouvir um sim para quem elas são. Cada vez que eu apareço contando alguma notícia, naquele espaço dos telejornais, sei que não estou sozinha”.

Com sua competência e carisma, Letícia conquistou o público e sua presença na televisão é uma mensagem de esperança para outras mulheres.

“Para mim, que não tinha uma referência no vídeo para me inspirar, para saber que eu podia, logo que comecei, é também uma missão. E tomara que a gente se veja cada vez mais na TV, no rádio, nas revistas”.

Fonte: Primeira Página

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