Foi lá na virada do século 19 para o 20 que as mulheres, esgotadas das fartas jornadas de 16 horas diárias de trabalho e salários pífios (bem menos do que era pago aos homens), e ainda assim pariam, cuidavam das crianças e dos mais velhos (pais, maridos e parentes afins), da jornada doméstica… enfim, o descontentamento dessas mulheres trabalhadoras levou as a ocuparem o centro de Nova Yorque e ainda realizaram a greve têxtil, a maior greve de todos os tempos das fábricas têxtil! E a luta por igualdade ainda continua… nas décadas seguintes, os movimentos pela emancipação feminina continuaram. Pois bem, o reflexo disso se fez sentir no mundo profissional, que absorveu um batalhão de mulheres instruídas e independentes.
Não posso deixar de fazer o recorte em ressaltar o papel das mulheres negras e pobres, sobretudo aqui no nosso país, por trabalharem como empregadas domésticas, babás, possibilitando assim para as mulheres de classe privilegiada se dedicassem a carreira. Ou seja, uma mão de obra barata, informal e garantida estruturou a grande “invasão” da mulher no mercado de trabalhado.
Bom, depois dessa breve recapitulação dos fatos e, longe de esgotar o tema em voga, no Brasil, somente no ano de 2023, o Projeto de Lei (PL) nº 1.085/2023, que torna obrigatória a igualdade salarial entre homens e mulheres que exercem a mesma função. O PL, que agora se torna lei, foi apresentado pelo atual presidente em 8 de março, durante a celebração do Dia Internacional da Mulher.
Nesse curto espaço, queria aproveitar para dizer que a lutas emancipatórias por igualdade entre homens e mulheres aconteceu, porém esta longe de ser uma igualdade sólida, na verdade, muitas das vezes torna-se uma igualdade inglória para nós mulheres.
Digo que a luta é por equidade de gênero! A equidade de gênero diz respeito a uma tentativa de reparação histórica que visa eliminar toda e qualquer discriminação contra a mulher, a fim de estabelecer a igualdade entre homens e mulheres com base no reconhecimento das necessidades e características próprias de cada gênero, especialmente em relação às desvantagens e vulnerabilidades que as mulheres enfrentam enquanto grupo.
A luta pela igualdade continua e não emancipou a mulher totalmente, pois os gêneros são diferentes, as nossas particularidades devem ser levadas em conta na garantia dos nossos direitos e oportunidades.
A autora Paula Adamo Idoeta Role, Da BBC News Brasil em Londres, escreveu um artigo com o seguinte tema: Os desafios da ‘geração sanduíche’, que cuida dos filhos e dos pais. O artigo traz o relato de várias mulheres no desafio de cuidar simultaneamente de duas gerações, as mudanças demográficas e sociais em curso no mundo inteiro tornam cada vez mais comum que famílias, em especial mulheres, sejam “prensadas”, ao mesmo tempo, pelas demandas tanto de pais idosos que necessitam de cuidado quanto de filhos — ou mesmo netos — que também requerem atenção constante e sustento financeiro. Há uma combinação de motivos por trás desse fenômeno global: como as pessoas estão tendo filhos mais tarde, e seus pais estão vivendo mais, muitas se veem lidando com os cuidados das duas gerações.
As estatísticas comprovam essa propensão: segundo o IBGE, as mulheres dedicam, em média, 10,4 horas por semana a mais do que os homens às tarefas domésticas e aos cuidados não remunerados com pessoas.
Bom, bem longe de esgotar o assunto, fico aqui nesse texto com essa reflexão, destaco – se todo trabalho produtivo da mulher no lar recebesse valor monetário, o PIB subiria em quantos por cento?
A pergunta que ficou no referido artigo da BBC foi: quem cuida-se de quem? E Na mesma esteira, o texto defende políticas públicas, como centros de cuidados diurnos ou noturnos para idosos, assim como as creches para crianças, criando equipamentos públicos como a ampliação de rede de aparelhos coletivos como lavanderias e restaurantes populares, e a formalização da profissão de cuidador, poderiam ajudar a aliviar a carga emocional, social e financeira sobre esses grupos.
Por isso, para mim é tão importante avançarmos para políticas de equidade de gênero.
Deixo um texto para repensarmos sobre a igualdade, que não é nem de longe reparadora, pelo contrário, nós mulheres estamos cada vez mais sobrecarregadas e fartas com jornadas de trabalho, cuidados, auto-cuidados… para além de trabalhadoras, devemos ser ótimas trabalhadoras, ótimas técnicas, ótimas mães, ótimas em cuidados pessoais e ótimas em cuidados a terceiros, ótimas em cuidados com nossos pais, sogros, maridos. Vamos nos emancipar quando e do que mesmo?
Letícia Silva do Prado é advogada e servidora pública.
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