Mães de LGBTQIA+ assassinados relatam dor e desrespeito aos filhos

Família reunida, almoço na mesa e conversa em dia. Essa é uma situação que costuma ocorrer em grande parte dos lares brasileiros, na ocasião que celebra o Dia das Mães, comemorado todo segundo domingo de maio em todo o país.

Embora seja um dia de celebração, muitos têm o momento ofuscado pela dor da perda, recente ou não, como é o caso de Rose Velasco e Jucimar da Silva. As duas compartilham de um fato e um sentimento em comum: o vazio de passar o Dia das Mães sem os filhos, vítimas da violência e muita dor.

“Se a gente for tirar a vida de quem nos incomoda, nós vamos virar o que?”, questiona a jornalista Rose Velasco, mãe do chef de cozinha João Guilherme Velasco, assassinado em 28 de abril de 2021, em Sinop (420 km de Cuiabá). O corpo de João foi encontrado caído na rua, na frente do estacionamento de um hotel, e tinha ao menos duas perfurações de arma de fogo na região da cabeça.

 

Rose destaca, em entrevista ao , que em trecho do inquérito policial que investiga a morte de João Guilherme é citada a frase: “se incomodaram com o fato dele ser homossexual”. Ela observa descaso por parte do poder público. “Não é porque a pessoa é pobre, negra e homossexual que ela não merece ser respeitada”.

Este é o segundo Dia das Mães que a jornalista passará sem a presença do filho em vida. Emocionada, ela relata o peso da ausência de um “bom dia” ou “boa noite” vindo, ainda que por mensagem de texto, por parte de João Guilherme.

Rose se ampara, principalmente, no apoio da família para seguir em frente. O carinho da filha mais velha e dos dois netos é o que tem ajudado a suprir a carência, nas palavras da mesma.

A jornalista também encontrou conforto no Mães Pela Diversidade, organização não-governamental que reúne mães e pais de crianças, adolescentes e adultos LGBTQIA+ em todo o país. Se identificando pelas histórias e pela própria troca de experiências entre participantes do grupo. “Eu não posso falar em nome do grupo, sou apenas uma integrante, mas o que eu vejo é que eles têm essa preocupação de cobrar dos poderes públicos essa política de atenção básica ao público LGBTQIA+”, diz Rose.

“Eu gostaria que o Brasil passasse a ser mais humano, mais amoroso, mais gentil, uma pátria amada de fato. Não apenas no hino ou na bandeira nacional”, cita a jornalista.

O crime que tirou a vida do jovem João Guilherme segue sem solução e é investigado pela Polícia Civil, que acompanha o caso. Crime esse que torna João mais uma vítima da triste estatística que coloca Mato Grosso como o 9º estado com mais mortes de pessoas LGBTQIA+ em 2021, segundo relatório do Grupo Gay da Bahia, divulgado este ano.

Só nas últimas semanas, o  noticiou os assassinatos de três homens gays, um deles, Roger André Soares da Silva, 29, que foi morto com mais de 30 facadas e teve seu sangue utilizado no desenho de cruzes, encontrados no local do crime.

 

Dia difícil

Em entrevista ao , Jucimar Silva,45, narra a falta que a presença do filho faz em seu dia a dia. Por morar próxima a Roger, Jucimar era visitada diariamente pelo jovem, que inclusive fazia as refeições na casa da mãe. “Pra mim todo dia vai ser muito difícil, principalmente o Dia das Mães. Eu já não tenho mãe e agora passar o primeiro Dia das Mães sem meu filho, pra mim é muito difícil.”, conta emocionada.

Maior que o interesse em descobrir a motivação do crime que vitimou Roger é o choque em lembrar o estado em que foi encontrado o corpo do filho. Jucimar lembra que chegou ao local do crime e se deparou com uma cena de barbárie. “Eu cheguei lá onde aconteceu o crime e parecia um matadouro. Ele matou meu filho igual um cachorro. Furou os olhos, cortou abaixo da garganta, os pulsos dele, furou o tórax dele, o estômago dele. Meu Deus do céu”, conta revoltada.

Sobre a motivação do crime, Jucimar afirma não ter ideia e cita um “ponto de interrogação” quando questionada sobre o assunto. “Mesmo que por ele ser homossexual, esse cara não tinha o direito de tirar a vida do meu filho não”. “Eu falava assim, meu filho é gay, mas ele é mais homem que qualquer homem, porque ele nunca me deixou passar fome”, relembra ao detalhar como era a relação entre ela e Roger no que diz respeito a sexualidade do rapaz.

Ela contou sobre a assistência prestada por Roger que, desde cedo, ocupou parte do seu tempo estudando e trabalhando.

“Meu filho morreu como um bicho e ele vai viver como um bicho, andando e correndo de polícia”, afirma a mãe de Roger, sobre o assassino do jovem e se diz grata pelo tempo que Roger passou ao seu lado. “Quero dizer para você que é mãe, que nunca queira passar pelo que estou passando e que viva cada dia como se fosse o último, porque depois que perde é muito difícil”,

Jucimar, assim como Rose, e outras muitas mães de pessoas LGBTQIA+ desejam para este Dia das Mães algo em comum: a garantia de direitos básicos a seus filhos, como acesso à saúde, segurança, dignidade e respeito.

Fonte: www.gazetadigital.com.br

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