O policial militar aposentado que foi preso pela Polícia Militar (PM) após atirar e tentar matar a sobrinha, na sexta-feira (20), foi solto e vai responder pelo crime de tentativa de homicídio em liberdade, em Rondonópolis-MT.
O juiz decidiu pela liberdade provisória do homem de 54 anos mediante a entrega da arma de fogo e colocação da tornozeleira eletrônica.
Ele também está proibido de manter contato com os ofendidos, com fiscalização por meio de monitoramento eletrônico, de modo a garantir o vínculo do autuado com o Juízo e desestimular a prática de novos delitos.
Ficou decidido pelo juiz o cumprimento das seguintes medidas cautelares diversas da prisão:
I – comparecimento em juízo todas as vezes que for intimado;
II – entrega da sua arma de fogo, que deverá ser recolhida pela Polícia Militar;
III – fiscalização por meio de monitoramento eletrônico;
IV – proibição de manter contato com os ofendidos, sob pena de revogação do benefício (artigo 319 incisos I, III e IX do CPP).
O CRIME
Segundo informações, a vítima de 49 anos estava na casa da avó com os dois filhos e marido e discutia sobre problemas familiares com o suspeito.
O homem de 54 anos teria dito que se a vítima não fosse embora dali, ele iria matar todos. A mulher e os familiares foram em direção ao carro para sair do local e observaram o suspeito pegar uma arma de fogo e atirar.
O tiro foi direcionado à mulher, mas não a atingiu.
Durante a abordagem, ele fez mais ameaças à mulher e aos familiares.
VÍTIMA PEDE JUSTIÇA
Carta aberta à justiça
Eu trabalho há 6 anos na segurança pública. Sempre ouvi pessoas que diziam que o sistema não funciona. O sistema funciona, sou prova disso, mas precisa de nós.
Venho de uma família amorosa, onde por anos vivemos sobre a ameaça de alguém que usa o nome da Polícia Militar para violentar psicologicamente mulheres, empunhando arma e dizendo estar pronto a resolver tudo “na bala”.
As ameaças deixaram de ser veladas depois da morte do meu avô. Retirando a arma da cintura, ele diversas vezes afirmava que ninguém roubaria sua mãe, que era esse o objetivo do resto da família, em horas de alienação parental à minha avó, recentemente diagnosticada em um quadro de demência. E após meses repetindo isso, foi ele quem levou minha avó no banco e transferiu para sua conta pessoal 242 mil que meu avô havia deixado em conta no nome dela. Antes fosse esse seu único objetivo: queria a curatela da minha avó e queria especialmente ter acesso à todos os outros valores relacionados à herança.
Fiquei 2 meses sem ver minha avó. E ao visitá-la com as coisinhas que ela havia me pedido ao telefone (fritadeira elétrica e vestidos sem manga) vi novamente ameaças à mim e minhas tias. Minha avó pediu que ele parasse com aquilo, implorou, meu filho via aquele homem gritar ensandecido comigo e só conseguia chorar, meu marido ainda tentava chamá-lo a luz da razão.
E o que ouvimos após sermos expulsos da casa da minha avó, e das claras ameaças de morte, foi o que ele repetiu por ano à todos: então você vai ver.
Mal pude dar um beijo em minha avó que por sua doença não entendia nada. Corremos em direção ao carro e de dentro o vimos mirar em nossa direção e escutamos o primeiro estampido. O vimos caminhar ainda em direção ao carro movimentando a pistola em mãos e não vimos mais nada depois…. Só aceleremos desenfreadamente, foi desesperador e eu só conseguia olhar cada centímetro dos meus filhos para me assegurar que estavam bem.
Há poucas quadras dali encontramos uma guarnição da PM e muito preocupada em deixar minha avó sob os cuidados daquele homem clamei por socorro contando o que havia se passado. Fomos imediatamente atendidos. A polícia ainda busca a arma, mas encontraram a cápsula e encontramos acolhimento, respeito, trabalho rápido e efetivo para que rapidamente ele fosse preso. Esse que deveria ser tio, colo, cuidado, mas não passa de um potencial feminicida, há anos investindo contra mulheres que sempre cuidaram de seus pais com tanto amor e carinho.
Agradeço à todos da PM, através da pessoa do Ten.Cel. Ozório e ao Capitão Tavares, pelo trabalho de condução do caso e apoio à nós e meus filhos. Agradeço à Delegacia da Mulher de Rondonópolis, ao Delegado Fernando e todas as servidoras que desde o início foram força para que não tivéssemos medo em agir. E por fim agradeço à toda equipe da PJC, na pessoa do Escrivão Diego e do Delegado Daniel. Hoje uma mulher não morreu, filhos não ficaram sem mãe, e o criminoso está na cadeia.
No entanto, através desta carta, fica meu apelo para que o sistema continue funcionando, para que a justiça continue na árdua tarefa de manter preso aqueles que querem destruir famílias inteiras por motivos vazios como dinheiro. Não faz muito a polícia prendeu, a justiça falhou, o criminoso violentou, matou e ainda abandonou o corpo em um parque, com a frieza de colocar na vítima um óculos de sol.
E a todas as mulheres que eu amo e a tantas que não conheço mas passam pelo que nossa família passou: não se calem mulheres, o sistema precisa de todas nós.
Edjane Ávila Gasparini
Fonte: Agora MT