Premiada na Itália, artista fala sobre desafios da área em MT

Emanuelle Calgaro é artista plástica moradora de Cuiabá, que conquista cada vez mais um espaço de destaque no meio artístico. Produzindo suas obras com lápis e com a técnica denominada de pastel seco, já expôs sua coleção além das fronteiras do Brasil. No último mês ela foi selecionada, entre mais de 300 obras, como a favorita do público no Prêmio Arte Anima Latina 2024 e conquistou uma bolsa para estudar na Itália em 2025.

A artista faz seus desenhos à mão, principalmente com lápis e uma técnica chamada de pastel seco, em que pequenos bastões de pigmentos coloridos são desintegrados e manuseados com as mãos, que auxiliam a criar a sensação de leveza e naturalidade em suas obras, que geralmente retratam pássaros. As obras de Emanuelle já foram expostas em 14 países.

No início do mês, a artista foi premiada pela 5°edição do Prêmio Arte Anima Latina, em Perugia, na Itália. Nessa edição, a artista recebeu também o prêmio de favorita do público, entre mais de 300 artistas. Vencer o prêmio, garantiu a ela uma bolsa para estudar em Perugia, na Itália, no próximo ano, onde ela terá, não só estudos sobre diferentes formas de produção, como também da língua e cultura do local.

Em 12 de setembro, às 19h30 na Galeria Lava Pés, ela se prepara para inaugurar sua nova exposição, a “Travessia” e convida a todos para prestigiarem o evento. Em entrevista exclusiva ao #gd, Emanuelle foi convidada a contar sua trajetória como artista, o prêmio internacional conquistado e curiosidades sobre o próximo trabalho publicado. Ela também aproveitou para reforçar o convite para o lançamento de “Travessia”.

GD: Como foi o seu processo de se tornar artista? Como você escolheu esse caminho?
Emanuelle Calgaro: Na verdade eu acho que eu não escolhi, eu fui escolhida. Desde criança eu gostava muito de desenhar, mas sempre tinha o viés de que ‘isso não é profissão, não vai te levar nada, não vai te trazer dinheiro’, então passei a adolescência e depois a vida adulta, trabalhando com isso, mas não com isso como prioridade.

Eu sempre desenvolvi outras atividades, perceber que eu poderia fazer qualquer coisa, que eu ia conseguir me manter com isso e então eu decidi, do ano passado pra cá, assumir isso como uma profissão, como uma frente de trabalho, que foi quando eu lancei, depois da pandemia, em abril de 2023, a série Suspensão, uma exposição feita na Galeria Lava Pés, que foi um marco desse, dessa profissão pra mim. Então foi assim que eu posso dizer que a coisa começou de verdade.

GD: Você ganhou uma bolsa para estudar na Itália no próximo ano, como foi esse processo?
Emanuelle Calgaro: Essa bolsa foi uma surpresa. Apareceu essa coisa do prêmio, o prêmio Arte Anima Latina que teve várias fases e várias coisas contidas nesse mesmo prêmio.

Eu me inscrevi à distância, não pensando em estar presencialmente lá, mas enviei alguns trabalhos que foram expostos em uma galeria virtual. O meu trabalho foi, não apenas selecionado para estar lá, como também tive 3 trabalhos premiados. Quando as coisas estavam acontecendo, depois da metade do processo em diante, os organizadores decidiram premiar o artista favorito. De todos os mais de 300 que estavam participando, o artista favorito do público por votação no Instagram. Na época eu disse, ‘ah, mas eu não vou, nem vou tentar isso aqui’. Mas fui começando a brincar, mandar o link para as pessoas votarem até que a gente virou uma madrugada mandando o link para as pessoas, para que elas pudessem votar. E deu certo!

Consegui o prêmio e também fui escolhida como favorita do público. Ganhei uma bolsa de 30 dias para permanecer em Perúdia estudando na universidade. De manhã estarei estudando italiano e nos outros períodos, outros cursos, como de cerâmica, papel artesanal, oficinas em vidro, com cristais, então vou ter a oportunidade nesses 30 dias de vivenciar tudo isso.

Com certeza esse aprendizado vai refletir na minha arte porque cada saída dessas é uma inspiração diferente.

GD: Como é receber esse reconhecimento, no mundo, mas também em Cuiabá e Mato Grosso?
Emanuelle Calgaro: É o mais importante pra mim. Eu tenho essa visão, porque “Suspensão” explodiu e eu tive a sorte de ter esse trabalho escolhido para estar em muitos lugares. Ele já está em 14 países diferentes, então ganhou o mundo, mas, ser reconhecida dentro do meu país, do estado em que eu vivo e que me acolhe como filha da terra, é uma alegria muito grande.

Eu tive a oportunidade de me desenvolver muito aqui em Cuiabá, em Mato Grosso, e eu sempre quis, na verdade, isso. Do momento em que eu percebi que o trabalho foi pra fora, mas também ter ele aqui dentro e fixar raízes é a parte mais gratificante.

GD: Quais foram os degraus necessários para conquistar o espaço que alcançou hoje? Existem dificuldades de ser artista no estado?
Emanuelle Calgaro: Sim, em vários momentos e muitos vieses. Não só por ser artista em Mato Grosso, mas por ser artista mulher em Mato Grosso. Existe sempre um questionamento sobre a nossa capacidade mesmo que de uma forma bastante velada e isso aparece em muitos momentos, mesmo na produção de uma exposição em que você lida com o público mais masculino.

Tem muitas questões que são feitas, questionamentos se você foi capaz de fazer aquilo mesmo. ‘É você mesmo que desenha?’, eu já ouvi.

A gente passa por algumas coisas assim, mas isso também é uma consciência que vem mudando. Nós, como mulheres e também como artistas, viemos conquistando um espaço importante. É muito importante observar que quando uma mulher se cura encontrando seu próprio espaço, ela auxilia outras mulheres também a virem nesse mesmo movimento. Mulheres auxiliam e capacitam mulheres que também estão em busca de se curar, e meu trabalho tem muito a ver com isso.

GD: Sua exposição “Suspensão” retrata diferentes pássaros e de diferentes formas. De onde vem esse amor por esses animais?
Emanuelle Calgaro: Então, começou no pós-pandemia. Na pandemia, estávamos todos reclusos e ninguém podia sair de dentro de casa. O meu ateliê na época, ficava num lugar na casa onde eu morava e tinha um pequeno jardim na frente. Lá tinha um colibri que vinha todo santo dia, brincava nas flores um pouco e ia embora na hora que ele queria. Me lembro que eu olhava invejando o colibri porque a gente queria sair e não podia.

Coincidentemente, uma semana antes eu ganhei um livro sobre pássaros, que tinha sido até do Adir Sodré, um livro sobre 500 pássaros do Brasil, acho. Eu estava com esse livro lá, e aí esse link com o passarinho que veio me visitar me fez querer experimentar esse negócio. Foi muito interessante, eu não mexia com nada disso, nem com o tema, nem com esse material, nada.

GD: Sobre sua nova exposição, prevista para lançamento em setembro, a “Travessia”. O que já pode ser revelado sobre ela?
Emanuelle Calgaro: Em “Suspensão”, como eu estava distante das artes plásticas há algum tempo e trabalhando com outras coisas, eu busquei uma reinserção no mercado das artes. Lá, eu trabalhei com pássaros pousados, dando enfoque mais para olhos e bico. A expressão do olhar, o bico e eles todos retratados mais como observadores de quem estava observando. As obras trazem essa troca com o espectador e muitas pessoas dizem que se sentem intimidadas quando olham para elas, ao mesmo tempo que tem uma conexão muito forte.

O que eu posso dizer sobre “Travessia”, sem dar muita spoiler, é que também são pássaros, mas que vêm com mais liberdade, com praticamente todos em voo. São voos sensacionais e também com grandes formatos. O que eu posso dizer sobre essa exposição é mais ou menos isso, por enquanto. Convido a todos para estarem na Galeria Lava-Pés no dia 12 de setembro a partir das 19h30 para a abertura de “Travessia”.

GD: Como está seu trabalho artístico a partir de agora, tem algo que já pode ser esperado?
Emanuelle Calgaro: Sim. Eu estou também concluindo essa semana ou no máximo talvez semana que vem, mais sete exemplares de uma terceira coleção que eu pretendo lançar em 2025. Não vou falar sobre o que é que tá? Mas, tá quase pronta já. Com 7 exemplares eu concluo e essa é diferente.

Fonte: Gazeta Digital

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